Hummanno

Um poeta autodidata

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Velas, Favelas e Caravelas

Hummanno

Eu quero ela
La bela que passa
Na passarela
Paralela a praça. (1)

Modelo de salto
Alto esculpida
Desfila no palco
Asfalto avenida. (2)

Canta a buzina
A esquina assovia
A luz ilumina
Sua divina etnia. (3)

A pele da carne
Arde ao farol
Espalha seu charme
Na tarde de sol. (4)

Cabelo de trança
Balança no ar
A perna que dança
Se lança a andar. (5)

Porte Real
Ancestral africana
Preta cacau
De Bissal ou de gana? (6)

Talvez Angolana
Da rama a raiz
Uma mucama
De drama infeliz. (7)

Me cante um canto
Banto ou Nagô
Conte aos brancos
Do santo Xangô. (8)

Flor da senzala
Propala negrume
Rosa que fala
E exala perfume. (9)

Hálito assim,
Capim hortelã
Sorriso marfim
Jasmim da manhã. (10)

Flor que incendeia
Clareia olhares
Vem da aldeia
Que rodeia Palmares. (11)

Olhos amêndoa
Leoa altaneira
Talvez de Quiloa
A boa guerreira. (12)

Oceano de luz
Conduz ao poente
A Vera Cruz
Ao sul do Ocidente. (1)

Terra Brasilhas
Brilha um lampejo
Vista a milhas
E milhas do Tejo. (2)

Veio do Congo
Bando de escravos
Comporão quilombos
Mocambo de bravos. (3)

Veio aos milhões
Porções de africanos
Preso a grilhões
Porões desumanos. (4)

Deu a cultura
Mistura de jambo
Trouxe a cura
As agruras do banzo. (5)

Nos deu Pelé
Axé e o samba
O candomblé
E a fé na umbanda. (6)

Povo valente
De ente aguerrido
Passado latente
Presente esquecido. (7)

Salve as cores!
Salve os colares!
Rufem tambores
Viva Palmares! (8)

Eu quero aquela
Donzela que passa
Que pinta a favela
Aquarela da raça. (1)

Retoca a tela
Pincela a cidade
Na tarde amarela
Revela a beldade. (2)

Ginga Angola
Rebola o quadril
A Quilombola
Crioula Brasil. (3)

Seu corpo de mola
Viola a gravidade
O suor descola
Rola e invade. (4)

Seu seio escuro
Puro, erguido
Um peito maduro
Duro atrevido. (5)

A tez de avelã
Lã de algodão
O rosto maça
Romã de verão. (6)

Pescoço formoso
Cheiroso e roliço
Esbelto oleoso
Sedoso e bendito. (7)

Adorno de Keto
Amuleto da sorte
Guarda o gueto
E os pretos da morte. (8)

Lábios poema
Aroma manjar
Prazer alfazema
Átona no ar. (9)

Voa nas velas
Da bela africana
Das caravelas
As favelas urbanas. (10)

Voa vestido
Florido de renda
Sobre o alarido
De tribos e tendas. (11)

Voe turbante
Diante a Oxalá
E eleve distante
A amante yoruba. (12)

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