Hummanno

Um poeta autodidata

sábado, 3 de abril de 2010

Landrão

Hummanno

Duas da madru
Duas da matina
Um landau azul
Corta a tal da neblina. (1)

A cortina
Fina ele fura
Na captura
Da pérola escura. (2)

A noite é uma dama
De ascendência africana
De turbante e de vestido
Elegante e florido. (3)

E ele vem na lenta
Nos 100 menos 60
Rezando nos 40
Queimando água benta. (4)

Abraão, Abraão
Ora o landrão
Na neblina pratiada
Que domina a madrugada. (5)

Abraão, Abraão
Ora o landrão
Na fumaça de prata
Que embaça a vidraça. (6)

Tem motorista
Na pista tem
É da night e metido
Tem o naipe de bandido. (7)

Bandido KD?
Se o vidro é fume
Ali dentro ninguém vê
“Os doido” no role. (8)

Uma fita adesiva
Enfeita o pára-brisa
Landau landrão
Magistral malandrão. (9)

É! Cheio de ginga
Estilo lá da gringa
Rebaixado no chão
Idolatrado pelos “drão”. (10)

Cheio de encantos
Dio santo
A S-10 da Preto e Branco
É veloz mas nem tanto. (11)

Os “banco” e o volante
Branco marfim
Seu motor é fascinante
Sua cor azul setim. (12)

Das duas em diante
O mais brillante azul
Para os amantes
Do diamante blue. (13)

A roda é regada
A prata e ouro
Os “banco” e a capota
É forrada de coro. (14)


O piloto Kamikaze
Da cadera ambulante
Comanda a aeronave
Com a mão no volante. (1)

Vai vagabundo
Vai de vagar no mundo
De óculos de sol
E gorro da Kangol. (2)

De calça big caqui
Perfume Kaiak
Seu alto falante
Fala alto nesse estante. (3)

Derrama na neblina
Só rima de rapina
Agora a mais de 100
Ouvindo Jorge Ben. (4)

Quem falou de mim
Na madrugada
Quem falou de mim
Não fala nada. (5)

E uma bela dona
No banco do carona
Uma musa, uma dama.
Uma deusa africana. (6)

Estátua de ébano
Tem cor de jóia cara
É africana a boca
É madona rara. (7)

Sem véu e sem grinalda
Ó filha de Zumbi
Mas com anel de esmeraldas
E colar de rubi. (8)

A princesa de Palmares
É linda e atraente
Com Pedras e colares
No landau reluzente. (9)

Brilha a lataria
Na trilha da Goodyear
De calotas raiadas
Pratas e douradas. (10)

O seu santo quarteto
De pneu branco e preto
Roda sua roda
Pela rua do gueto. (11)

No bairro proibido
Do povo oprimido
Corpos doloridos
Em barracos exprimidos. (12)

Ruas de terra
Quebrando a esquina
Subindo a serra
Ou descendo a colina. (13)

O landau impera
Na vila sombria
No vale da guerra
Onde a noite é fria. (14)

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