Hummanno

Um poeta autodidata

sábado, 3 de abril de 2010

Khanto Fhalado

Hummano

Aí, meu coração é de todos vocês oh!
Que moram no Khanto Fhalado.

Bom dia,
Mãe Periferia, bom dia!
A alvorada anuncia
A chegada do dia. (1)

Levanta Maria
Acorda José
Apronta a Marmita
E côa o café. (2)

Caminha pro banheiro
Se olha no espelho
Molha o rosto
Penteia o cabelo. (3)

Beija a filha
Beija o filho
Deixa a família
Se encaixa no trilho. (4)

Passos para o ponto
Descendo a ladeira
Oito contos no bolso
Dentro da carteira. (5)

Então vai na fé
O busão ta lotado
São 30 sentados
E 90 de pé. (6)

Dentro da mochila
Um rádio de pilha
Um livro, a bíblia.
A foto da família. (7)

Desnutrição
Na marmita do Povo
Arroz, feijão
Às vezes tem ovo. (8)

Sem legume, sem verdura.
Sem carne, sem osso.
E a mistura moço
Só dura até no almoço. (9)

Sopra a brisa
A lida é sofrida
Mas a dor se ameniza
No rádio que liga. (10)

O relento lento
Lento partiu o sol já saiu.
Mas o vento
Deixa o tempo mais frio. (11)

Balança a pipa
Enroscada no fio
Rabiola enrolada
No poste de energia, é! (12)

A marca registrada
Da mãe periferia
E na beira do barranco
O barraco alvenaria. (13)

Compõe o cenário
Da minha poesia
Bom dia!
Mãe Periferia, bom dia! (14)

Bom dia Mãe!
Periferia...

A luz que irradia
É Jesus que anuncia
A chegada do dia
Bom dia! (1, 2)

Estrela dourada
Na moldura azulada
Abre suas asas
E voa, voa.
Por cima das “casa”
E pousa deitada
Na terra empoeirada
Da mulher mais amada.

Bom dia,
Mãe Periferia, bom dia!
A senhora desperta
A sua alma deserta. (1)

Aos poucos se liberta
E é suprida
Pelo sopro da batida
De outras vidas. (2)

Tun, tun. Tun, tun
Tun, tun.
Vaza o garoto
De coração exposto. (3)

Sua vida é um lírio
No meio do esgoto
Sua alma é um delírio
Beleza sem rosto. (4)

Áurea de criança
Cara de anjinho
Camiseta branca
Calça azul marinho. (5)

O cabelo enrolado
É penteado de lado
A sua pele morena
É suave e serena. (6)

Caderno na mão
Chinelo de dedo
Olho inchado
Acordado logo cedo. (7)

O ensino é médio
A escola o prédio
A sala um tédio
E o livro remédio. (8)

Pois a...
Criança que não estuda
Crescerá cega
Surda e muda. (9)

A periferia
De um país feliz
É escrita com lápis
Caneta e giz. (10)

Mãe periferia
É agora uma senhora
De vestido estampado
Florido e desbotado. (11)

Sem lenço na cabeça
Tem cabelo esbranquiçado
A pele é preta
E o rosto enrugado. (12)

Estilo africana
A afro-brasileira
De sandália havaianas
Suja de poeira. (13)

Tu és minha irmã
Minha vó, minha tia.
Bom dia!
Mãe Periferia, bom dia! (14)

Bom dia Mãe!
Periferia...

A luz que irradia
É Jesus que anuncia
A chegada do dia
Bom dia! (1, 2)

Estrela dourada
Na moldura azulada
Abre suas asas
E voa, voa.
Por cima das “casa”
E pousa deitada
Na terra empoeirada
Da mulher mais amada.

Bom dia!
Mãe Periferia, bom dia!
Acordo de manhã
Ouvindo Djavan. (1)

Alegre menina
Traz na lembrança
Uma dor que desatina
Num amor de criança. (2)

A tragédia marcaria
A sua infância
Correria na esquina
Gritaria, lambança. (3)

A sirene anuncia
A chegada da ambulância
E na maca é levada
A garota de trança. (4)

A porta si tranca
Lá dentro ela some
Garota de trança
Não lembro seu nome. (5)

Michele Tamara
Ou Kelly Mayara
9 anos 5 manos
Dona de casa. (6)

Anjo sem asa
Não brinca de boneca
Olhar sincero
Sorriso de moleca. (7)

Ela faz comida
E lava louça
Limpa a casa
E ainda lava roupa. (8)

Panela no fogo
Fritava ovo
Esbarrou distraída
Ganhou uma ferida. (9)

Perna queimada
Gordura quente
Queimadura na pele
Mais um trauma na mente. (10)

O sol foi embora
A garoa piora
Xiii! Agora
Chove muito lá fora. (11)

E uma lágrima vai
Cortando a vidraça
É a chuva que vem
Da tristeza que passa. (12)

A chuva da serra
Tem gotas de maldade
Castiga a terra
A casa invade. (13)

Mas depois da tempestade
Vem a calmaria
Bom dia!
Mãe periferia, bom dia! (14)

Bom dia Mãe Periferia!

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